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Jazz & Free Improv - Melhores Gravadoras em 2021: Leo, Intakt, Astral Spirits, Clean Feed, Fundacja Słuchaj, Far Out...


O ano de 2021 está quase acabando. E para nós musicólatras, está acabando naquele grande estilo de listas e mais listas dos "Melhores Álbuns do Ano" -- um ano ainda pandêmico, mas que já foi bem melhor do que 2020. Particularmente, acho essas listas interessantes -- ainda que não necessariamente emblemáticas ou antológicas, uma vez que é difícil quantificar ou imaginar o quão antológico ou "clássico" um álbum se tornará em relação ao cenário que ele representa e ao longo do tempo -- porque apesar de cada site, blog, magazine, jornal e etc...veicular como melhores apenas os álbuns que estejam de acordo com suas próprias preferências e diretrizes, se o leitor e ouvinte for um pouco mais curioso ele acaba por pesquisar várias dessas listas para formar sua própria diretriz auditiva, e sua própria percepção do que está à acontecer nos vários cenários ao redor do mundo. E é com essa intenção que neste post lhes trago "as melhores gravadoras de jazz e livre improvisação de 2021". De acordo minhas audições, tenho para mim que essas foram algumas das principais gravadoras a definir o jazz e a livre improvisação neste ano ainda pandêmico -- e isso com a real tendência de uma derribada cada vez mais efetiva de barreiras geográficas e estilísticas, onde as gravadoras europeias conta com músicos americanos, e as gravadoras americanas conta com músicos europeus. Quer dizer: além da nossa lista de álbuns do ano -- que o leitor pode ter acesso aqui na tag Álbuns 2021 --, também acho interessante o leitor do blog Instrumental Verves saber quais gravadoras tem sido responsáveis pelos álbuns mais criativos do ano, quais gravadoras tem sido mais prolíficas e quais selos mais representam a contemporaneidade do jazz e da livre improvisação em nossa época e nos vários cenários onde a música instrumental ainda pode ser tocada. Neste post lhes trago, então, algumas dessas informações e algumas breves e novas indicações de álbuns lançados por estes selos. Ademais,  essa minha percepção para com estes selos não é de agora de 2021, mas vem dos anos anteriores e me reverberou nos lançamentos mais recentes deste ano -- então é basicamente uma lista de gravadoras independentes que estiveram em evidência, também, nos anos anteriores. Clique nas imagens para saber mais e ouça a playlist no final do post. 


Far Out Recordings (Londres): do samba ao groove, o instrumental brasileiro bem representado na gringa


Neste ano de 2021, ao menos três registros lançados por essa gravadora inglesa baseada na música brasileira (samba, MPB e música instrumental) são destaques internacionais: Sankofa do pianista recifense Amaro Freitas (abordado aqui no blog), o projeto solo chamado Tempos Futuros do contrabaixista Alex Malheiros (mais conhecido como membro do Trio Azymuth) e a edição em disco de uma série de faixas gravados por Hermeto Pascoal numa noite de 1981 no Planetário, em Rio de Janeiro, chamada Planetário da Gávea. Essa edição da série de faixas gravadas no Planetário é emblemática e é considerado um achado importante porque marca o início do "Hermeto Pascoal e Grupo" que duraria com a mesma formação (à exceção de Zé Eduardo Nazário) pelos próximos onze anos -- sempre retornando, aliás, em meados dos 90 e 2000 mais ou menos com a mesma formação, mas tendo a inclusão de jovens instrumentistas -- e representa uma evolução importante na carreira de Hermeto após seu retorno dos EUA e seus shows internacionais de finais dos anos 70. Além de Hermeto e sua profusão de instrumentos, objetos e apetrechos, eram componentes do grupo o tecladista Jovino Santos Neto, o flautista e saxofonista Carlos Malta, o contrabaixista Itiberê Zwarg e os bateristas Zé Eduardo Nazário e Márcio Bahia se revezando nas baquetas. A maioria das composições tocadas naquela noite no Planetário nunca havia sido gravada, sendo algumas dessas faixas exclusivas deste álbum: caso da "Homônimo Sintróvio", "Samba Do Belaqua", "Vou Pra Lá e Pra Cá" e "Bombardino". Ademais, Sankofa, do pianista Amaro Freitas, foi um dos lançamentos brasileiros mais elogiados mundo afora -- para quem ainda não ouviu, acesse a resenha na tag Álbuns 2021. E ouvindo Tempos Futuros do veterano contrabaixista Alex Malheiros -- também com a inclusão de jovens instrumentistas em sua banda de apoio -- acabamos por perceber como que o groove do fusion brasileiro de ares setentistas se mantém atemporal. 


Leo Records (Londres): a livre improvisação europeia elevada ao seu mais alto nível de arte exploratória


Uma das principais gravadoras de free improv das últimas décadas, a gravadora inglesa Leo Records foi fundada em 1979 por Aleksei Leonidov (aka Leo Feigin), um imigrante russo. Por ela já passaram inúmeros dos principais improvisadores e grupos europeus, americanos e japoneses tais como Wadada Leo Smith, Cecil Taylor, Art Ensemble of Chicago, Anthony Braxton, Marilyn Crispell, Evan Parker, Joëlle Léandre, Phill Minton, Ganelin Trio, Satoko Fujii, Aki Takase, Mark Nauseef, Ned Rothenberg, Simon Nabatov e etc. Deixando a Rússia ainda na época da União Soviética, em 1973, e se estabelecendo em Londres, Leo Feigin conheceu o jazz através da radiofusão da Voice of America e  foi introduzido no meio musical através de um emprego na BBC de Londres onde iniciou seus trabalhos na função de intérprete e produtor de programas de rádio, se valendo, a partir de então, de um crescente networking de contatos para conhecer produtores e músicos americanos e europeus, incluindo contatos com músicos russos expatriados.

Posteriormente, um dos principais nomes do jazz e da música instrumental da Rússia que Leo Feigin (foto ao lado) promoveria fora dos territórios soviéticos seria o Ganelin Trio, considerado uma verdadeira legenda do jazz europeu. Depois, outros músicos soviéticos como Sergey Kuryokhin, Valentina Pomomareva e Sainkho Namtchylak também foram lançados pela Leo Records. Além desses exemplos, em 1989 a Leo Records lançou um interessantíssimo box de 10 discos chamado Document: New Music From Russia, apresentando um bom número de variadas gravações de músicos russos, muitos delas gestadas de forma clandestina e anônima por causa da repressão soviética. Ademais, um dos principais trunfos da Leo Records é lançar, além dos trabalhos dos panteões de renome internacional, gravações de improvisadores de renome local ou pouco conhecidos. Agora mesmo, em 2021, a Leo Records lançou uma quantidade de mais de 15 álbuns com os mais variados formatos instrumentais, os mais variados músicos europeus e nas mais variadas abordagens: nomes como Sergio Armaroli (Itália), Fritz Hauser (Suíça), Andrea Massaria (Itália), Saadet Türköz (Turquia), Eric Plandé (França), Roger Turner (Inglaterra), Simon Nabatov (Russia), entre outros. Embora neste ano de 2021 a Leo tenha focado em produções de músicos europeus -- até por se tratar de um ano pandêmico onde as conexões aéreas ainda foram limitadas, quando não interrompidas --, músicos radicados nos EUA como Wadada Leo Smith, Michae͏l Attias, Ivo Perelman e Elliott Sharp frequentemente atravessam o Atlântico para lançarem seus petardos pelo selo inglês. Anthony Braxton mesmo tem mais de 30 álbuns pela gravadora e Marilyn Crispell já conta com  mais de 12 títulos. Essa predileção e respeito que muitos improvisadores têm pelo selo de Leo Feigin (aka Aleksei Leonidov) é explicada -- de acordo entrevistas dada pelo próprio Leo -- pela ampla liberdade de criação dada aos músicos onde a única exigência é nunca gravar algo igual ou nem mesmo com certo grau de semelhança em relação às gravações anteriores.


Tzadik (Nova Iorque): da jewish music ao noise e experimental, John Zorn em uma dezena de lançamentos 


Podemos dizer que todo ano a Tzadik, selo fundado pelo saxofonista e experimentalista John Zorn, é um dos destaques maiores do meio fonográfico underground. John Zorn, aliás, tem ampliado seu leque como produtor para muito além do seu reduto underground particular ao qual já estávamos acostumados -- de free jazz, noisecore, experimental music, música erudita contemporânea, radical jewish music etc, etc --, frequentemente convidando para seus projetos ou para lançar álbuns pela Tzadik músicos dantes ligados à outras estéticas e à outros cenários como o saxofonista Steve Coleman, o guitarrista Julian Lage, o guitar star Pat Metheny, o jovem vibrafonista Joel Ross dentre tantos outros músicos de jazz. Porém, neste ano de 2021, o destaque da gravadora foi o próprio Zorn e seus 11 lançamentos próprios -- inacreditável a energia que o músico e compositor, já chegando à casa dos setenta anos de idade (mas eternamente jovem!) evidencia ano a ano. São alguns deles: The Ninth Circle, um trabalho de eletrônica (com Fender Rhodes, Mellotron, orgão e noise improvisations) baseado na antiga lenda grega de Orfeu e Eurídice; New Masada Quartet, o primeiro (e já muito elogiado) registro do seu reformulado quarteto acústico baseado em seu projeto Masada que já vem de décadas; uma série de composições para o trio de guitarras com (Bill Frisell, Gyan Riley e Julian Lage) evidenciadas nos álbuns ParablesTeresa De Avila; e o interessantíssimo book da série Arcana, que já chega em seu nono volume e inclui ensaios, entrevistas, depoimentos, fotos, críticas e anotações sobre as novas opiniões, teorias e práticas musicais no século 21 defendidas por músicos e compositores tais como John Luther Adams, Osvaldo Golijov, Ann Cleare e Aaron Jay Kernis, virtuosos do jazz tais como Christian McBride, Chris Potter, Tomeka Reid e Joel Ross, compositores de trilhas sonoras tais como Danny Elfman e Carter Burwell, o engenheiro de gravação Ryan Streber, dentre outros. 


 Astral Spirits (Austin, Texas): no espírito do free jazz mais incendiário, de Thurston Moore à Peter Bröztmann

 
Essa é uma das gravadoras mais novas desta relação aqui discorrida. Mas é uma das gravadoras-destaques dos últimos anos, principalmente para os aficionados em free jazz que acompanham plataformas, blogs, webzines e sites como Bandcamp, Free Jazz Collective, Tiny Mix Tapes, FreeForm FreeJazz... -- e o selo já foi abordado até no site da Rolling Stone (que nas últimas décadas deixou de ser apenas uma revista de rock'n'roll para abordar, também, o pop, o jazz e a música experimental). Com sede em Austin, Texas, o selo foi fundado em 2014 pelo músico Nathan Cross, que passou a prezar por produzir e viabilizar gravações com uma estética de free jazz mais ayleriano, cru, tórrido e pesado, além de manter um design gráfico contemporâneo que corrobora bem com essa estética mais crua. Um dos mais prolíficos selos dos últimos tempos, a Astral Spirits segue produzido um volume considerável de gravações anuais de músicos emergentes e pesos pesados do free jazz e da livre improvisação: frequentemente evidenciando uma conexão entre EUA e Europa, o selo nos proporciona apreciar em suas produções músicos como Joe McPhee, Ken Vandermark, Susan Alcorn, Rodrigo Amado, Lotte Anker, Fred Lonberg-Holm, Nicole Mitchell, Tomeka Reid, Mike Reed, Rob Mazurek, Thurston Moore, Hamid Drake, Peter Bröztmann, Gerald Cleaver, Cooper-Moore, Wadada Leo Smith, Hamid Drake, William Parker, dentre muitos outros. O Instrumental Verves pecou em não expor por aqui ao menos três ótimos álbuns lançados pela Astral Spirits em 2021. Por ora, eu ouvi e indico: What You Seek is Seeking You com um sax-trio com Nick Mazzarella (sax alto), Ingebrigt Håker Flaten (contrabaixo) e Avreeayl Ra (bateria); The Very Cup of Trembling com Alvin Fielder (bateria), David Dove (trombone), Jason Jackson (saxes) e Damon Smith (contrabaixo); El Templo com Paula Schocron (piano), William Parker (Contrabaixo) e Pablo Díaz (bateria); e Martian Kitties com Gordon Grdina (guitarra, oud) e Jim Black (bateria, eletrônicos). 


Clean Feed & Shhpuma(Lisboa): de NY à Euro, dos portugueses aos nórdicos, inovação sem limites ou muros


O ano de 2021 foi um ano de ampla visibilidade para a Clean Feed e sua subsidiária Shhpuma Records. Fazendo 20 anos de história -- com muitas resenhas e notícias comemorativas veiculadas nos principais blogs, sites, jornais, webzines e magazines especializadas --, a gravadora portuguesa celebrou seu aniversário lançando uma grande promoção para seu catálogo disponível e uma numerosa edição de novos lançamentos. Aqui mesmo no Instrumental Verves abordamos os 20 anos da gravadora e alguns dos seus discos em alguns momentos (vide as tags Álbuns 2020 e Álbuns 2021), enfatizando que trata-se de um dos principais e mais inovadores selos a contribuir com uma derribada cada vez mais efetiva de alguns muros e barreiras (estéticas e geográficas) que dantes separavam músicos americanos e europeus, europeus e japoneses, nórdicos e portugueses e etc -- lembrando, também, que a Clean Feed foi, nas últimas duas décadas, a principal força motriz a propulsionar a cena de jazz e música improvisada em Lisboa. Difícil ditar, num ano que foi muito bom para a Clean Feed, quais dos seus lançamentos são os mais indicados, uma vez que a gravadora lançou um bom número de álbuns espetaculares. Mas um dos álbuns mais auditivamente espetaculares foi o Ego Kills, lançado pela banda The Killing Popes no catálogo da Shhpuma Records, subsidiária por onde os gestores da Clean Feed tem soltado seus petardos mais experimentais, inclassificáveis e outsiders. Outro dos álbuns que até ouvi, coloquei no espaço de audição aqui do blog, mas ainda não elaborei uma crítica dedicada é o Lumina, um álbum muito interessante de livre improvisação orquestral com Pedro Melo Alves e seu Omniae Large Ensemble, uma indicação que, com certeza, merece toda a atenção do ouvinte-leitor. 


Fundacja Słuchaj (Varsóvia): free music renovada, um baú de preciosidades, o pulsante cenário polonês


Em 2021 também falamos aqui do selo polonês Fundacja Słuchaj -- vide a tag "Albuns 2021 " --, que tem se destacado como um dos principais selos de jazz contemporâneo e música improvisada na Europa através de lançamentos com Evan Parker (Warszawa 2019), Ivo Perelman (Brass & Ivory Tales), Gerry Hemingway (Yakut's Gallop), Augusti Fernandez e lançamentos de pérolas achadas no fundo do baú de Cecil Taylor. Além dos lançamentos com esses nomes mais conhecidos, a Fundacja Słuchaj evidencia um número significativo dos principais improvisers poloneses -- jovens e veteranos. São os casos do saxofonista Gerard Lebik, do vibrafonista Dominik Bukowski, do pianista Szymon Wójciński, do baterista Krzysztof Szmańda, do guitarrista Marcin Olak, do contrabaixista Maciej Garbowski, dentre tantos outros nomes do pulsante cenário polonês. Em 2021, a gravadora polonesa, pois, lançou um total de 17 álbuns na plataforma do Bandcamp -- sem mencionar seus títulos mais caseiros, que podem ser apreciados em seu atraente sítio na web. Ademais, basta dizer que a gravadora polonesa tem prezado por uma música improvisada cada vez mais renovada, incluindo produções com inserções de eletrônica e estruturas mais elaboradas.


Ayler Records (Limours, FR): do free jazz acústico sessentista à livre improvisação com efeitos eletrônicos 


A Ayler Records não é um selo por onde o ouvinte aficionado por free jazz e livre improvisação verá muitos e muitos álbuns lançados anualmente. Mas é um selo a não perder de vista, dado suas produções com uma estética que esbanja sempre muita contemporaneidade através de uma ênfase em produções de álbuns com composições estruturadas e com inserções de eletrônica criativa. Fundada em 2000 na Suécia com o espírito de se inspirar nas gravações clássicas do free jazz sessentista e setentista a La Albert Ayler, a Ayler Records vem ganhando amplo reconhecimento entre os fãs de música improvisada ao lançar gravações e editar arquivos que documentam as cenas formadas por músicos americanos, escandinavos e franceses. Em 2009, a Ayler Records mudou-se para a França e, desde então, enviesou-se para produções menos alusivas ao cânone do free jazz coltraneano e ayleriano, passando a investir suas produções em novos nomes da França e doutros cantos dos EUA e Europa que trouxessem uma identidade de buscar por sonoridades mais contemporâneas, quase sempre embebecidas de novas ambiências acústicas e eletroacústicas. Aqui no Instrumental Verves resenhamos, recentemente, os álbuns Time Elleipsis (Ayler Records, 2020) de Frederick Galiay e Nights Enter (Ayler Records, 2021) de Dennis González e seu Ataraxia Trio. Uma visita pelo site da Ayler poderá apresentar ao ouvinte mais curioso um leque sonoro novo e instigante com nomes como Jean-Luc Cappozzo, Daunik Lazro, Didier Lasserre, Sylvaine Hélary, Eric Brochard, Fabrice Favriou, dentre outros improvisadores e músicos de jazz do cenário francês. 


Intakt Records (Zurique): avant-garde, post-bop, modern-creative, um selo de arte sonora contemporânea


A Intakt Records, gravadora suíça de ampla importância para o jazz e a música improvisada europeia, dispensa apresentações -- ela segue reconhecidíssima como uma etiqueta de grande valor para qualquer fã de jazz. Nos últimos anos, a gravadora enriqueceu sobremaneira o arquivo de produções de jazz e avant-garde com álbuns pra lá de criativos. Aqui no Instrumental Verves abordamos dois deles em 2021: A Mountain Doesn't Know It's Tall com Fred Frith e Ikue Mori e Punkt. Vrt. Plastik com o piano-trio de Kaja Draksler. Além desses, a Intakt tem sito responsável por lançar excelentes álbuns do altoísta Tim Berne, do saxtenorista James Brandon Lewis (foto do início do post), do contrabaixista Stephan Crump, do clarinetista Chris Speed, do violinista Mark Feldman e de músicos europeus tais como o guitarrista suiço Dave Gisler, a pianista suiça Irène Schweizer, o pianista inglês Alexander Hawkings, a saxofonista alemã Silke Eberhard, dentre outros. Essa requintada etiqueta suiça de música improvisada também é outro dos selos que variabilizaram bem suas amostragens nos últimos tempos, abordando desde peças livremente improvisadas até composições estruturadas, do free jazz mais abstrato ao modern creative mais próximo ao um jazz post-bop. Em 2021 a gravadora lançou pelo menos 20 títulos, dentre os quais álbuns de grande repercussão e aclamação na crítica especializada. 


Edition Records (Cardiff): de Chris Potter ao Phronesis Trio, o post-bop na mais elevada contemporaneidade

 
Gravadora inglesa fundada em 2008 pelo músico Dave Stapleton e o fotógrafo Tim Dickeson, a Edition Records se tornou um dos mais notáveis selos do jazz atual no que concerne a um certo range vai do post-bop contemporâneo e até seus arredores com a eletrônica, o pop e com as variabilidades do cenário do jazz inglês. Em 2019, 2020 e 2021 abordamos aqui, sequencialmente, o álbum Activate Infinity do The Bad Plus e os espetaculares álbuns lançados pelo saxofonista Chris Potter pelo selo. Para quem quiser conhecer mais, um breve passeio pelo estiloso site da gravadora já evidencia seu ambicioso projeto de documentar o que há de mais contemporâneo, criativo e sofisticado no jazz mundial: vide os álbuns do contrabaixista britânico Dave Holland (Another Land, 2021), do trompetista americano Marquis Hill (New Gospel Revisited, 2022), do saxtenorista inglês Mark Lockheart (Dreamers, 2022), do baterista americano Nate Smith (Kinfolk 2, 2021), do tubista norueguês Daniel Herskedal e da pianista e arranjadora japonesa Miho Hazama (Imaginary Visions - featuring The Danish Radio Big Band, 2021), entre outros -- alguns dos músicos e bandas, aliás, se mostram um tanto versáteis no transitar pelas variabilidades estilísticas que compreendem essa conexão jazzística EUA-Europa. O selo também evidencia trabalhos de nomes importantes do pujante cenário inglês, tais como Kit Downes, Dinosaur, Phronesis Trio, Tim Garland, Robert Mitchell, Matthew Bourne, dentre outros. Ademais, a Edition Records também tem apostado em ensembles e músicos que evidenciam uma mistura de "contemporary classical" (ou "indie classical", como queiram) com jazz, pop e eletrônica. 


International Anthem (Chicago): dos ecos do post-rock às influências da AACM, a Chicago Scene renovada


Notei que recentemente também abordei aqui no blog dois álbuns desta interessantíssima etiqueta de Chicago: More Energy Fields, Current de Carlos Niño & Friends e Universal Beings E&F Sides de Makaya McCraven. Sendo outra das mais novas editoras aqui desta relação, o selo foi fundado em 2014 pelos produtores, curadores e designers Scottie McNiec e David Allen, que tiveram a ideia de criar uma etiqueta que pudesse permear todo o caleidoscópico ecletismo que emana dos palcos, clubes e estúdios de Chicago: de elementos freejazzísticos ligados à histórica AACM (Association for the Advancement of Creative Musicians) ao post-rock, de um certo jazz mais progressivo aos sedimentos da eletrônica -- mas é claro que com o jazz sendo o principal sedimento a dar liga nas misturas desse rico instrumental permeado por designs sonoros próximos ao lo-fi e projetos de multimídia. Nos últimos tempos podemos conferir, além dos interessantíssimos álbuns de Carlos Niño e Makaya McCraven já mencionados, registros elogiadíssimos do cornetista Rob Mazurek, do guitarrista Jeff Parker, do multi-instrumentista Ben LaMar Gay, do sax-trio de Nick Mazzarella e do DJ Damon Locks e seu Black Monument Ensemble. Um outro registro curioso é o do projeto experimental de eletrônica ambient do baterista Jamire Williams, chamado But Only After You Have Suffered: o projeto consiste numa cinematográfica trilha experimental com vocais, colagens eletrônicas, mixtapes com batidas e vocais inspirados pelo hip hop, texturas minimalistas e improvisações diversas. Fica aí, então, a dica. A International Anthem tem sido um verdadeiro repositório do que há de mais contemporâneo acontecendo no cenário instrumental de Chicago.