Conforme prometido, e fechando o mês de Março/2023, eis aqui o nosso terceiro e último post dedicado completamente às mulheres musicistas advindas de várias formas de arte sonora, partindo do início da música moderna até as formas de música contemporânea em voga nos dias de hoje. É tarefa fácil valorizar o papel da mulher na música quando se relaciona apenas cantoras, artistas de música vocal —— do jazz à ópera, da música popular brasileira à pop music, o canto e seus padrões tem historicamente favorecido as belas vozes femininas. Mas quando adentramos aos territórios das músicas instrumentais mais exploratórias, da composição erudita, da música experimental, do manejo instrumental mais inflexionado à improvisação e à invenção, da criação de peças que transcendem os padrões mercadológicos da palatividade, então é aí que começamos a perceber massivamente a ausência feminina muitas vezes proporcionada pelo machismo e pela misoginia que empesteia, também e infelizmente, o universo da música. É como se o estigma de que o gênero feminino esteja ligado apenas ao canto e ao exercício musical relacionado ao "belo" e ao "sensível" fizesse algum sentido e resumisse a força e as competências criativas das mulheres —— um absurdo! É como se as mulheres não tivessem capacidade para estar em pé de igualdade com seus colegas homens, criar trabalhos experimentais, liderar bandas e orquestras ou gerir projetos pujantes e inovadores em teatros e instituições culturais. No ramo da música erudita, por exemplo, é comum que mulheres intérpretes, concertistas e cantoras líricas sejam celebradas como estrelas e musas daquele classicismo antiquado e pedante que sempre repete as formas musicais antigas só mudando o traje e o design gráfico na capa do álbum —— e até aí tudo bem: manter a cultura clássica para não deixar as grandes invenções do passado caírem no esquecimento seria algo muito louvável se o espaço para novas composições e obras de música moderna e contemporânea fosse igualmente disposto. Porém, conta-se nos dedos as musicistas que conseguem conquistar postos de compositoras residentes, maestrinas, diretoras de teatros, curadoras e gestoras culturais: e é ainda mais raro o fato de se ter algumas dessas compositoras, maestrinas e diretoras de arte conseguindo manter estabilidade de carreira com parcerias com grandes ensembles ou à frente de orquestras renomadas, à frente de novos projetos, estreando novas composições e gerindo grades programáticas inovadoras. E infelizmente esse cenário de conservadorismo e desigualdade se reverbera por todo o espectro da música instrumental. Contudo, as poucas mulheres, precursoras e pioneiras, que vieram derribando esses cercadinhos machistas e desbravando esses territórios ao logo do século 20, elas não apenas abriram trilhas musicais inovadoras como também cimentaram vias importantíssimas para que essas desigualdades e esses estigmas sejam fortemente reduzidos agora no século 21. E este podcast, em 15 episódios, irá apresentar 30 grandes compositoras, instrumentistas e musicistas de várias áreas da música instrumental que contribuíram fortemente para modernizar e inovar ainda mais as várias formas de música moderna e contemporânea desses tempos, consequentemente contribuindo para se reduzir a misoginia e a desigualdade no espectro cultural. A ideia destes episódios é apresentar sínteses a partir de trechos das obras dessas musicistas e trazer alguns breves comentários sobre elas. Para o ouvinte-leitor que quiser saber mais informações, pesquise os nomes no nosso conjunto de tags aqui mesmo no blog! Boas audições a todos!!!
Nadia Boulanger (1887-1979): com conhecimento musical enciclopédico, ela ensinou dezenas de grandes compositores, foi importante maestrina da música moderna e pioneira compositora de estilo romântico-impressionista
Galina Ustvolskaya (1919-2006) & Sofia Gubaidulina (1931): compositoras modernistas que subverteram as exigências estéticas ditatoriais do realismo socialista soviético com clusters, dissonâncias e estruturas assíncronas
Lucrecia Dalt & JLin: duas grandes expoentes da música eletrônica contemporânea (experimental, conceitual e para dança) e suas vertentes próximas à ambient music, glitch, IDM (Intelligent Dance Music) e footwork
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