Desde o início do século 20 tem havido uma expansão sem prescendentes do uso de itens de percussão na música através dos bateristas de jazz, dos inovadores percussionistas da música popular (música brasileira, afrocuban, afrobeat, musica oriental, world music e etc) e dos compositores modernos de música erudita tais como Cage, Varèse, Stockhausen, Xenákis, Zappa, entre outros, os quais começaram a evidenciar toda a riqueza rítmica e todas as ricas paletas sonoras dos itens de percussão dentro da música moderna —— uma expansão que não houve nos séculos passados das eras do medieval, do barroco, do clacissismo e do romantismo ocidental. O motivo que culminou nessa expansão, lógico, é mais antigo: ele fecunda no seio da escravidão, com os negros e seus batuques sendo trazidos e levados, e com todos os exôdos étnicos e multiculturais que o mundo moderno e suas guerras provocaram. Atualmente, quando o assunto é música sinfônica, camerística e concertante escrita para percussão, há uma figura que está no topo da lista dos compositores e performers que estão revolucionando essa seara: o nome dele é Andy Akiho (1979- ), virtuoso percussionista e celebrado compositor americano indicado ao Pulitzer em 2022 e várias vezes indicado ao Grammy nesses últimos anos. Nascido em Columbia, Carolina do Sul, Andy Akiho é descendente de japoneses e se apaixonou pela percussão ainda criança quando sua irmã lhe apresentou a bateria. Posteriormente, Akiho se apaixonaria também pelas panelas de aço, o mais popular instrumento do país caribenho Trinidad e Tobago. Após formar-se na Universidade da Carolina do Sul com um bacharelado em performance de percussão, Andy Akiho mesclou suas atividades entre as pesquisas de campo e a continuidade dos estudos universitários, chegando a, inclusive, viajar algumas vezes para Trinidad e Tobago para aprender mais sobre as tais panelas de aço. Akiho daria andamento em um mestrado em performance contemporânea pela Manhattan School of Music, concluindo em seguida um mestrado de composição pela Yale School of Music e um doutorado pela Princeton University. Como percussionista, Akiho iniciara suas incursões já na passagem do colegial para a fase universitária participando das fanfarras e dos corpos de bateria e cornetas (drum and bugle corps) tão tradicionais em gincanas e competições interestaduais nos EUA: ele foi membro do Carolina Crown Drum and Bugle Corps de Fort Mill, na Carolina do Sul, e depois participou do The Cadets Drum and Bugle Corps de Allentown, na Pensilvânia. Fascinado pela pesquisa, Akiho imergiria incansavelmente no aprendizado de vários gêneros de percussão: aprendeu sobre a percussão sinfônica, a tradição das panelas de aço de Trinidad e Tobago, a percussão do jazz, a percussão brasileira e participou de grupos de percussão africana. Como compositor, uma virada de chave ocorreu quando ele começou a participar de festivais dedicados para jovens compositores. Entre 2007 e 2008, por exemplo, ele participa de um festival de verão produzido pelo coletivo Bang on a Can, sendo tutelado e influenciado enormemente pela diretriz expansiva de Julia Wolfe, David Lang e Michael Gordon, compositores pós-minimalistas responsáveis pelo coletivo e festivais. Em 2009 ele já ganhava o Prêmio ASCAP Morton Gould para Jovens Compositores, seguindo, a partir daí, a ganhar vários prêmios, bolsas e comissões, pouco a pouco se tornando um dos compositores mais celebrados da atualidade.
Inicialmente, seu estilo de composição foi influenciado por seus professores na Yale University, principalmente por Christopher Theofanidis, Ezra Laderman e Martin Bresnick. A peça "Come Round" (1992) de Jacob Druckman também é um exemplo de diretriz modernista que lhe influenciou neste estágio inicial: trata-se de uma peça modernista disposta de um interessante colorido sonoro marcado por um jogo pontilhista de timbres entre flauta, clarinete, violino, cello, piano e um percussionista empunhando um kit composto por marimba, pratos, gongo, bumbo e outros componentes. Posteriormente, porém, ele foi esculpindo seu próprio caleidoscópio composicional indo numa direção a incorporar a sonoridade caribenha das panelas de aço no âmbito da composição contemporânea e expandindo sua concepção em termos de peças teatrais e performáticas, onde, para alem dos timbres e cores, a percussão pudesse oferecer um aditivo cênico e visual. Esse seu foco em incorporar as panelas de aço dentro da produção sinfônica e camerística pode ser considerado, aliás, um marco importante dentro da expansão da percussão na música erudita, pois deu protagonismo para um instrumento que dantes tinha projeção apenas regional —— popular apenas em Trinidad e Tobago —— e mostrou que esse instrumento tem ampla capacidade de para contribuir com novas cores de timbres luminososos no âmbito da música erudita contemporânea. Mas seu estilo de composição também sofreria forte influência do jazz e das inspirações que ele foi coletando nos cenários por onde passava. Já nos anos de 2010, Andy Akiho passou a ter uma agenda lotada de performances nos mais variados locais, museus e palcos americanos tais como o Walker Art Center, a sede do Bang on a Can, o (Le) Poisson Rouge (local de música de cabaré e arte multimídia), o Jazz at Lincoln Center (a Meca do jazz em N.Y.C, gerida por Wynton Marsalis), o Merkin Hall, o Mass MOCA, o The Tank, o The Stone (clube de música avant-garde de John Zorn), e tantos outros. Dessa forma, Andy Akiho passou a apresentar peças que amalgamavam uma miríade de elementos e possibilidades sem, contudo, soar saliente em relação as essas inspirações, construindo um estilo coeso e amalgamado: essa amálgama unificou ritmos caribenhos e a sonoridade caribenha das panelas de aço, o pontilhismo modernista pós-dodecafônico, sonoridades e elementos do jazz, influências do pós-minimalismo, música experimental, música clássica japonesa e outros elementos. O álbum que documenta essa sua construção inicial é o melodioso e luminoso No One to Know One (Innova, 2011), debut onde Akiho empunha panela de aço junto a um ensemble com cordas, harpa, clarinete, trompete, piano, contrabaixo, bateria e kits de percussão, variando bastante os coloridos e as combinações de formas, timbres e instrumentação... e, ainda assim, soando coeso em todo o compêndio. É um dos grandes álbuns de percussão da década de 2010!
Com crescente criatividade, Andy Akiho lançaria um segundo álbum em 2017: o The War Below (National Sawdust). O álbum traz as inventivas peças para cordas e ensemble "Prospects of a Misplaced Year" e "Septet", com partes performadas pelos membros do ensemble The Knights, pela pianista Vicky Chow (membro do Bang On A Can), pelo percussionista Ian David Rosenbaum (membro do Sandbox Percussion), pelo quarteto de cordas Friction Quartet e pelo próprio Akiho empunhando uma panela de aço. Interessante notar que nas partes da peça "Prospects of a Misplaced Year", Akiho mostra uma capacidade imaginativa fora do comum em explorar timbres, combinações e efeitos interacionais entre as cordas e os kits de percussão, muitas das vezes abordando as cordas dentro de um conceito percussivo ou combinando efeitos de técnicas estendidas das cordas —— tais como o sul ponticello, o pizzicato, o glissando, arco percurtindo as cordas, a crina do arco raspando nas cordas, etc... —— com os timbres e efeitos dos kits de percussão, incluindo timbres e efeitos de piano preparado. Gravada na misteriosa atmosfera de uma histórica catedral em Palo Alto, Califórnia, "Prospects of a Misplaced Year" traz ares mais sisudos, mais sombrios, com sombreamentos mais misteriosos, diferindo das suas peças mais melodiosas e luminosas, mas, ainda, assim imerge o ouvinte dentro de uma divertida interação de timbres e dentro de uma mesclagem intrincada de formas que vai do modernismo ao pós-minimalismo com genial e coesa construção composicional. Nessa peça, Akiho intitula o nome de cada movimento com anagramas, com partes dos nomes de cada um dos membros do grupo: o primeiro movimento, por exemplo, intitulado "The War Below", é dedicado à violista do Friction Quartet, Taija Warbelow; e os os parênteses no título do terceiro movimento, (K)in(e)tic (V)ar(i)atio(n)s, sugerem inspiração no nome KEVIN, nome do violinista Kevin Rogers. O álbum The War Below ainda traz o registro da sua peça "Septeto" escrita para percussão, piano, cordas e panela de aço, peça criada em colaboração com o coreógrafo Benjamin Millepied para o L.A Dance Project: trata-se de uma peça escrita em duas partes que começa vagarosamente com efeitos luminosos das cordas explorando harmônicos e glissandos, passa por longas e melodiosas notas flutuando no espaço, passa por interferências pontilhistas do piano, da panela de aço e do percussionista e segue se desenvolvendo em criativos jogos interativos entre os instrumentistas do septeto, tendo os timbres da panela de aço como os principais pontos de luminosidade. Dessa forma, Andy Akiho consegue sequenciar, combinar e até mesmo amalgamar melodismo pós-moderno, efeitos repetitivos minimalistas e pitadas estratégicas de densidade experimental com incomum equilíbrio e coesão.
Com uma lista vasta de peças escritas para variados instrumentos e objetos e kits de percussão —— caixas, marimbas, diferentes panelas de aço, bateria metálica, bumbos, pandeiro, gongos, tímpanos, piano preparado e etc —— a produção musical de Andy Akiho também aborda, como já mencionado, peças de caráter inusitado e/ou experimental, bem como peças de caráter teatral-performático. É o caso da peça Stop Speaking (2011) para tarola solo (snare drum) e reprodução digital, onde o percussionista precisa interagir com uma série de áudios eletrônicos digitalmente pré gravados que emulam latidos de cachorro. É o caso das peças Ricochet e Ping Pong Concerto (2013/ 2015) para pingue-pongue, violino, percussão e orquestra, escritas sob encomenda para o Beijing Music Festival e o MISA Festival, tendo sido estreadas pela Shanghai Symphony Orchestra e pela China Philharmonic Orchestra sob regência do maestro Long Yu. A peça "Ricochet", é performada por dois jogadores de ping pong —— o famoso tênis de mesa inglês, também muito cultuado na cultura esportiva dos chineses e doutros povos asiáticos ——, e requer a curiosa instalação de um bumbo em cima de uma mesa de ping pong no centro do palco, onde os sons e rítmos produzidos pelas tacadas sobre a mesa e pelas bolas que atingem o bumbo, através da interação dos dois jogadores, acabam formando um inusitado efeito concertante de sons percussivos junto à orquestra, assim como a orquestra dita as dinâmicas dos jogadores. Embora não tenha sido gravada em álbum, a performance que mostra essa inusitada peça está disponível em alguns vídeos no YouTube. Aliás, esse é mesmo aquele tipo de peça que raramente é gravada em álbum, uma vez que o intuíto é a performance ao vivo, é a performance visual. Ademais, quando analisamos a trajetória de obras já escritas por Andy Akiho, é visível que o compositor evita não ficar estático apenas no âmbito das peças para percussão, tendo buscado, também, criar peças inventivas para outros instrumentos onde ele possa aplicar suas singulares concepções de timbres, dinâmicas e coloridos as quais ele abstraiu do universo percussivo. É o caso das suas peças para sopros, cordas, celesta, harpa, eletrônica e conjuntos de instrumentações variadas, onde ele aborda esses instrumentos e ensembles de forma a enfatizar as técnicas estendidas e os aspectos percussivos que os mesmos possam produzir.
Em 2021, Andy Akiho mais uma vez chamaria a atenção da crítica especializada com mais uma obra a desafiar os limites da percussão dentro dos âmbitos da música erudita contemporânea e da arte audio-visual. Essa obra chama-se "Seven Pillars" e foi encomendada pelo emblemático quarteto de percussionistas Sandbox Percussion, parceiros de longa data de Akiho. Aqui já temos uma peça estritamente dedicada à percussão, sem quaisquer outros instrumentos. A peça consiste em sete pilares criativos-conceituais que ditam as formas como as percussões são combinadas, entrelaçadas e contrapostas, sendo um pilar para cada um dos sete movimentos com o quarteto tocando em conjunto e um movimento a solo para cada dos percussionistas, totalizando onze movimentos variavelmente performados através de instrumentos tradicionais como vibrafone, glockenspiel, marimba, panelas de aço e através de alguns sons de objetos tais como garrafas de vidro, tubos de metal, entre outros. A peça é assustadoramente criativa não apenas pela escrita elaborada e pelos coloridos efeitos interacionais, mas também pela sua intersecção com arte cênica e com a arte do audiovisual: o compositor e o quarteto contrataram 11 videoartistas para criar filmes originais a serem produzidos no real momento da performance de "Seven Pillars", sendo um filme para cada movimento da obra, com esses vídeos e performances colaborativas abrangendo os mundos da dança, da animação, filmagem experimental, da cenografia e todos os possíveis lapsos e sensações que essas intersecções entre sons, movimentos, luzes e imagens possam proporcionar ao telespectador. A peça foi desenvolvida através de múltiplas residências no Avaloch Farm Music Institute em Boscawen, New Hampshire, e foi finalmente estreada e em 3 de dezembro de 2021 Emerald City Music, em Seattle, com o palco tendo recebido a fina cenografia do renomado diretor de teatro Michael McQuilken. A peça foi logo disponibilizada em álbum nas plataformas digitais, imediatamente repercutindo e ganhando as mentes e corações dos críticos especializados em música contemporânea. Como reconhecimento, a peça foi prontamente indicada ao Pulitzer Prize 2022, onde a mesa examinadora emitiu a seguinte justificativa: "...an ambitious extension of traditional American percussion writing that, in 11 movements, combines sensuous timbres, an agile command of rhythm, and a wide span of international influences". Ainda que a obra não tenha ganhado o prêmio —— ficando em segundo lugar, atrás da peça ganhadora "Voiceless Mass", do compositor indígena Raven Chacon (vide o post onde eu falo dos 👉atuais critérios de diversidade do Pulitzer) ——, a indicação foi emblemática, pois não tem sido recorrente o fato de peças para percussão estarem entre entre as obras finalistas do Pulitzer nesses mais de 105 anos de história do prêmio. O álbum também foi indicado a dois prêmios Grammy: um na categoria de Melhor Composição Clássica Contemporânea, e a outra na categoria de Melhor Performance de Música de Câmara/ Pequeno Conjunto pela performance arrebatadora do Sandbox Percussion. Nomeações merecidas.
Atualmente, Andy Akiho passa por uma fase de, paralelamente ao âmbito camerístico, dar vazão em suas ambiciosas peças orquestrais. Em 2019 ele já concluíra seu Percussion Concerto, estreado pelo maestro Colin Currie à frente da Oregon Symphony Orchestra, e agora tem dito que está a trabalhar em um concerto para cello dedicado ao grande violoncelista Jeffrey Zeigler. Já neste ano de 2023, Akiho deu luz a um outro projeto orquestral inovador. Recebendo uma encomenda da Omaha Symphony Orchestra em consórcio com a Oregon Symphony Orchestra, o percussionista e compositor foi incumbido de criar uma peça extensa baseada na arte do artista nipo-americano Jun Kaneko e sua companheira Ree Kaneko, especialistas em grandes esculturas de vidro, bronze e cerâmica esmaltada, sendo muitas dessas esculturas gestadas em formas de grandes obeliscos, formas ovais e grandes cabeças estilizadas em cores e temáticas variadas: suas obras (esculturas, figurinos e painéis) —— que, ao que parece, amalgama mitologia e ancestralidade com transmodernidade —— já fazem parte do patrimônio cultural da cidade de Omaha, tendo esculturas expostas no Portland Japanese Garden, no Parque Gene Leahy Mall e figurinos encomendados para a Ópera de Omaha. A obra foi encomendada para ser tocada na noite de gala da entrega de um prêmio para Jun e Ree Kaneko, o Dick & Mary Holland Leadership Award, concedido sob o crivo filantrópico da Holland Foundation. A encomenda deu origem ao projeto Sculptures: Concert for Orchestra and Video, onde Andy Akiho teve a idéia de escrever um concerto que usasse as próprias esculturas de Jun Kaneko como instrumentos musicais, usando os sons dessas esculturas e fazendo-os interagir com a orquestra e com uma instalação multimídia. Esculturas como instrumentos musicais? Sim! Andy Akiho explica que foi convidado a passar algumas semanas com Jun e Ree Kaneko para ficar em contato com as esculturas e assim poder "estudá-las" para saber como tirar sons delas. O processo incluiu usar baquetas, mallets, martelos, arcos e hastes, percurtindo-os na superfície das esculturas para encontrar sons afinados com base na frequência padrão de A440 Hz ou próximos disso. A intenção era encontrar sons nessas esculturas que pudessem ser reconhecidos e transcritos para a pauta, afim de que outros percussionistas eventualmente pudessem tocar esse mesmo concerto usando, também, outros instrumentos de percussão afinados tais como, por exemplo, placas metálicas, marimbas ou tubos de metal cromático. E isso só foi possível porque Akiho passou dias demarcando as regiões das superfícies dessas esculturas que produzissem notas mais próximas da afinação padrão. Essa inventiva peça foi estreada em março de 2023 no Arlene Schnitzer Concert Hall, Portland, Oregon, numa programação que contou com a mescla das execuções da Sinfonia nº 6 - "Pathétique" de Tchaikovsky e da "Abertura Otelo" da Sinfonia No.9 de Dvořák. A estreia seguiu-se logo após uma exposição de Jun Kaneko no Jardim Japonês de Portland numa mostra intitulada "Garden of Resonance: The Art of Jun Kaneko". Abaixo, descrevo como o compositor conduziu o processo criativo.
★★★★¹/2 - Andy Akiho & Omaha Symphony - Sculptures (Aki Rhythm, 2023).
Sculptures foi gravada, então, entre os dias 17 e 22 de Março deste ano de 2023 no Holland Center, com a Omaha Symphony Orchestra e o percussionista principal Derek Dreier (mais o próprio Andy Akiho e outros percussionistas assistentes) sendo regidos pelo maestro Ankush Kumar Bahl. Andy Akiho conta que, além do trabalho de mapear possiveis sons melódicos sobre as superfícies das esculturas, um outro processo de fruição criativa foi necessário no sentido de abstrair as sensações que essas esculturas lhes provocavam para, assim, tentar transformar esse aspecto sensorial em sons. Em recentes entrevistas, Andy Akiho contou, porém, que esse processo levou em conta a pura subjetividade dessas sensações abstratas, de forma que ele até preferiu não interferir muito no sentido de artificializar essas abstrações, deixando, assim, que toda as sensações que essas esculturas lhes provocara chegassem ao público da forma mais pura e intocada possível. Isso porque Jun Kaneko é conhecido por criar obras sem título e assim deixá-las expostas para desafiar a "liberdade de pensamento", para permitir que os espectadores formem sua própria interpretação. Dessa forma, Akiho até criou títulos alusivos aos conceitos usados nas esculturas para nomear as partes da peça —— conceitos físicos e filosóficos, conformes descritos no Bandcamp ——, mas preferiu deixar a subjetividade das esculturas ditar os rumos da abstração musical enquanto compunha. Uma terceira parte da concretização do processo criativo, do arranjo composicional em si, incluiu listar uma relação de instrumentos de percussão que pudessem se emaranhar com os sons produzidos por essas esculturas, na intenção de potencializar as cores, o ludismo e o mistério em torno das mesmas. Para dar um tratamento timbrístico diferenciado em torno das sonoridades reais e das sensações abstraídas, Akiho incluiu no naipe de percussão instrumentos e kits tais como o almglocken, o glockenspiel, tubos de metal afinados, um conjunto de gongos tailandeses afinados, um conjunto de pratos de sino, piano preparado e celesta, e também incluiu timbres cintilantes de harpa em meio a essas sonoridades todas. Da mesma forma, a interação desse naipe de percussão com os naipes da orquestra foram imaginados para criar um inebriante design sonoro que aludisse às formas, cores e alegorias das esculturas usadas. A peça, em seu compêndio, é uma suíte constituída de revezamentos entre partes onde a orquestra, a percussão e os sons das esculturas dão o tom do imagetismo soando todos juntos e interlúdios onde a percussão e o sons das esculturas atuam sozinhos sem orquestra. Em alguns momentos, será a orquestra a oferecer uma colorida tapeçaria de camadas para forrar o território dos sons luminosos produzidos pela percussão, enquanto que em outros momentos será o pontilhismo e a luminosidade das percussões a dar sentido para os delineamentos orquestrais. É, pois, uma peça de grande criatividade inter-artes. Reforçando sua relevância enquanto o grande compositor de peças para percussão da atualidade, Akiho fez de Sculptures um sucesso inquestionável: é o primeiro álbum gravado pela Omaha Symphony Orchestra a ser indicado ao Grammy, tendo sido indicado para três premiações diferentes: Melhor Compêndio, Melhor Composição Clássica Contemporânea e Melhor Solo Instrumental Clássico para Percussão. Clique no álbum para ouvi-lo.
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